quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O FURACÃO “IMPACIÊNCIA”: RELEMBRE OS DISCURSOS FURIOSOS QUE MARCARAM NOSSA TELEVISÃO


Até que ponto o ser humano é capaz de controlar uma indignação? Hoje estive relembrando algumas personalidades corajosas que, num passado não muito distante, romperam as barreiras da acomodação, quebraram protocolos e soltaram o verbo para expressar suas  indignações em relação a velhos problemas do nosso BrasilZÃO.

Vamos a um exemplo recente. Todos os grandes veículos de comunicação noticiaram a passagem destrutiva do furacão Sandy pelos Estados Unidos.  Leitores, ouvintes , telespectadores e internautas foram bombardeados com tantas reportagens sobre os estragos da tormenta.  Jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas arriscaram suas vidas para fazer uma cobertura plausível e genuinamente profissional. Até aí tudo bem.

Acontece que esse mesmo furacão passou dias antes pela Jamaica, Cuba e Bahamas causando estragos iguais ou até maiores do que na terra do Tio Sam. Na Jamaica, por exemplo, segundo a rede pública EBC, 75 % da população ficou sem energia elétrica.

 É claro que não posso ser ingênuo aqui a ponto de não saber quais são os ‘critérios de noticiabilidade’ do Jornalismo, ou seja, o que as redações levam em consideração para um fato virar, ou não, notícia, como a ameaça a sociedade, a brutalidade e outros. Até porque isso é muito bem ensinado na academia. Agora ficar sem dar uma ‘notinha pelada’ sequer no Jornal Nacional ou um breve texto no Radar da Veja, achei um pouco exagerado.  Não vou nem falar que em alguns lugares do Nordeste, aqui no Brasil, não chove há quase um ano. E aí? Cadê a repercussão?

Mas tudo bem. Isso foi só um exemplo de indignação. Não tenho perfil de reclamão. Ainda sou equilibrado a ponto de controlar algumas fúrias. Então vamos aos recentes casos conhecidos de decepção veiculados na nossa televisão.

O primeiro desses desabafos,  em rede nacional, foi ao ar em março de 2011. A apresentadora Raquel Shererazade, da TV Tambaú, filiada do SBT em João Pessoa, na Paraíba, faz uma dura critica ao Carnaval. O vídeo ganhou tanta repercussão que, meses depois,  a jornalista foi convidada a trabalhar no Jornal do SBT, o principal noticiário da emissora. Vale a pena rever. Clique aqui.

Em abril do mesmo ano, no Jornal do Meio-Dia, também do SBT, o comentarista Luiz Carlos Prates,  revoltado com o fato de a Academia Brasileira de Letras agraciar o jogador Ronaldinho Gaúcho com a Medalha “Machado de Assis”,  faz um discurso furioso em defesa da meritocracia. Tire suas próprias conclusões clicando aqui.


Mas nada se compara ao discurso ousado da professora potiguar Amanda Gurgel, em maio de 2011. Durante uma Audiência Pública na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte, a docente falou da má qualidade do ensino público, reclamou da baixa remuneração dos professores e denunciou as condições precárias no local de trabalho. Autoridades políticas presentes na audiência tiveram de ‘engolir seco’ o desabafo da educadora. Relembre clicando aqui.


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

RESENHA: "ILUSÕES PERDIDAS", DE HONORÉ DE BALZAC


Capa do livro Ilusões Perdidas(1837)
Por: Andre Souza

Em Ilusões Perdidas, de 1837, Honoré De Balzac narra a vida do poeta e jornalista Luciano de Rubempré, um jovem nascido no interior da França que arrisca o próprio talento e inteligência na busca por uma carreira de dinheiro e sucesso na capital Paris. Escrito durante toda a carreira literária do autor, a obra aborda desde o trabalho maquinário nas tipografias até o espírito competitivo, antiético e manipulador dos jornalistas do século XIX.
A obra é dividida em três partes. A primeira delas, “Os dois poetas” narra a trajetória de dois amigos, Luciano de Rubempré e Davi Séchard, ambos nascidos na província francesa de Homeau, recém formados e ansiosos para lidar com os desafios da política e o desenvolvimento tipográfico e literário. Luciano, o protagonista, mais vaidoso, belo e inteligente, deixa a vida interiorana onde residia sob o afeto da mãe, irmã e o amigo para ir à Paris com a Srª. de Bargeton, uma nobre aristocrata da província de Angoulême que, encantada com a beleza do jovem, lhe promete a tão sonhada ascensão social.
Honoré De Balzac cria um ambiente de comparação entre os dois primeiros personagens para ilustrar o verdadeiro significado da obra: mostrar que as escolhas erradas podem gerar consequências graves. David, mais maduro, realista e trabalhador, se opõe a todo instante a Luciano, moço seduzido pelas oportunidades da cidade grande, protegido pelos entes queridos e arruinado pela tirania dos jornalistas. Nesse contexto, Balzac expõe, por meio do personagem David, toda a sua opinião contrária aos jornais da época, mostrando que é possível fazer o caminho da literatura sem se apegar a esse “bastão pestífero” [jornalismo].
Luciano de Rubempré escrevendo uma carta.
Na segunda parte, “Um grande homem da província em Paris”, Balzac relata os caminhos tomados por Luciano após chegar à cidade-luz. Devido a sua origem provinciana, o poeta enfrenta vários problemas da cidade grande. Primeiro, ele se vê abandonado por sua amada Srª de Bargeton. Depois, sozinho, tenta publicar seus poemas nas editoras, sem sucesso. Entra no Cenáculo e faz grandes amizades. Semanas depois, graças a um artigo sobre uma peça de teatro, passa a integrar a lista dos jornalistas de Paris.
A partir desse momento, o autor começa a apresentar uma série de atitudes antiéticas relacionadas ao ofício de jornalismo. O mais evidente é o uso do poder para manipular as massas em benefício próprio, ou seja, utilizar-se dos jornais para atacar autoridades e inimigos, saciando as próprias vontades e vaidades. Exemplo disso é quando Luciano abandona os amigos do Cenáculo para garantir lugar entre os jornalistas. Graças ao status proporcionado pelo novo ofício, o jovem passa a conviver no mundo dos romances, da luxúria, inveja e competições perigosas que lhe custariam caro. O poeta, seguro de suas conquistas e ambicionado pela riqueza, muda de posição política, opõe-se aos ex-amigos de profissão e acaba por cair nas armadilhas dos inimigos de imprensa.
O crítico do Jornalismo, Honoré De Balzac
Outro tema abordado é a competição entre os jornalistas. Apesar de ter sido escrita no século XIX, a obra está bastante ligada aos problemas contemporâneos do jornalismo. Assim que chega a Paris, Luciano lida diariamente com a burocracia das editoras, redações jornalísticas e, principalmente, o temperamento dos profissionais da imprensa. Prova disso é o trecho onde Finot, dono de um dos jornais de Paris, dialoga com um recém contratado. “Quero continuar redigindo a redação e lá conservar todos os meus interesses sem parecer intervir em coisa alguma. Quero ficar com o direito de mandar atacar ou defender, no jornal, os homens e os negócios que entender deixando te satisfazer os ódios e amizades que não interfiram com a minha política” (pág. 161)
Nesse sentido, a narrativa aponta para uma realidade atual em grande parte dos veículos de comunicação. Os jornalistas são apenas os homens que seguem a linha política e editorial dos jornais. As juras de prestação de serviços e defesa dos interesses públicos a qualquer custo estão cada vez mais extintas. Balzac, um nato crítico do jornalismo da época, usa outra personagem para expor as opiniões sobre a polêmica instalada na história. “O jornal, em vez de ser um sacerdócio, tornou-se um meio para os partidos, e de um meio passou a ser um negócio” (pág. 175).
A riqueza de detalhes da obra é evidente. Bastante extenso, o texto descreve cada cenário, diálogo e intenções das personagens de forma que o leitor compreenda claramente os desdobramentos da história. O clímax parece ser constante, ao fim de cada capítulo. A sensação é de que o leitor deveria aconselhar Luciano em suas decisões, mas o protagonista insiste em seguir os caminhos errados. A intenção do autor é segurar a atenção do leitor até o final , de forma que ele descubra qual será o fim do jovem poeta.
Na terceira e última parte da obra, “Os sofrimentos do inventor”, como o próprio nome diz, Balzac se preocupa em descrever as provações de Luciano. Ao se deparar com a doença, a perda da amada Corália, a pobreza e a solidão, o poeta reconhece que toda a sua glória foi destruída na mesma velocidade que foi conquistada.
Ilusões Perdidas, obra rica de ensinamentos relacionados ao jornalismo e a literatura, pode também ser considerada uma história de lição de vida para jovens profissionais que arriscam os próprios princípios em busca de fama e dinheiro. Longe de ser um simples romance de costumes, a obra leva o leitor a refletir sobre até quando vale a pena arriscar riquezas morais em busca de riquezas materiais. Já no campo jornalístico, o principal ensinamento refere-se a ética na profissão. Apesar de a maioria das redações jornalísticas enfrentar crises financeiras e político-partidárias, os profissionais devem priorizar a ética e o interesse público, e não sustentar um perfil de vaidades,  prepotência e submissão aos interesses comerciais.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

EDUCAÇÃO NO TRÂNSITO: RADARES SERÃO REATIVADOS NOS PRÓXIMOS DIAS EM BARRETOS


Novos pontos de radares em Barretos















CONHEÇA OS EQUIPAMENTOS QUE ESTARÃO EM FUNCIONAMENTO E EVITE MULTAS.

Os radares que controlam a velocidade em algumas ruas e avenidas de Barretos serão reativados no mês de novembro. A empresa TecDet, que venceu a licitação, já deu início à instalação dos aparelhos e aguarda uma inspeção do Inmetro para liberar o funcionamento. Não haverá radares móveis. Além dos antigos pontos de redução de velocidade conhecidos pelos barretenses, outros cinco locais deverão ser incluídos na lista do Departamento de Trânsito da Prefeitura.
Segundo informações do Departamento de Trânsito e Transportes existem 18 pontos com equipamentos instalados (carcaças), prontos para serem ativados em Barretos. Entretanto, apenas seis desses radares serão religados nos próximos dias. Isso porque de agora em diante, por força de contrato entre a empresa TecDet e a Prefeitura, os aparelhos só poderão funcionar de seis em seis, em sistema de rodízio, com os pontos previamente noticiados pelos meios de comunicação. A frequência do rodízio será de 6 a 8 meses, dependendo da conveniência técnica.
Radares que entrarão em funcionamento em novembro

Polêmica

Alguns moradores criticam a instalação dos radares, classificando-os como ‘indústria da multa’ ou ‘ferramenta de arrecadar dinheiro’ por parte da Prefeitura. Entretanto, o verdadeiro objetivo dos aparelhos é produzir um efeito educativo nos motoristas e motociclistas, além de prevenir os acidentes de trânsito ocasionados por veículos em alta velocidade.

Para o Departamento de Transito, o radar “é um instrumento democrático, educativo e fiscalizador”. Pode ser utilizado também como “um valioso aliado na engenharia de tráfego, porque, mesmo quando não multa, registra as passagens de veículos pelos locais, por dia, hora, velocidade, tipo, gênero e quantidades”, colaborando com futuras estatísticas.

Observações. 

O número de multas e o valor total de arrecadação gerados até hoje pelos radares de Barretos (desde 1999, quando foram instalados), só podem ser obtidos por meio de ofício encaminhado à Prefeitura. 

Todas as fotos utilizadas na montagem foram retiradas do site Google Maps.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

PROGRAMA ONLINE MOSTRA A SITUAÇÃO DO TRÁFEGO AÉREO EM TEMPO REAL

A plataforma online do programa FlightRadar24

No último dia 13 de outubro o pneu de um avião de carga da empresa americana Centurium estourou durante o pouso no Aeroporto de Viracopos, em Campinas, causando prejuízos milionários para as empresas aéreas e impedindo a viagem de mais de 30 mil passageiros.

Uma semana após o acidente, a revista Veja publicou uma reportagem explicando a situação de alguns aeroportos brasileiros se comparados aos dos Estados Unidos. O interessante da matéria é que ela estava acompanhada de  uma fotografia do tráfego aéreo tirada algumas horas depois da paralisação da pista de Viracopos, obtida a partir de um programa virtual gratuito para consulta chamado FlightRadar24, que até então eu desconhecia.

Rapidamente busquei na internet sobre o programa e descobri que se tratava de uma interessante ferramenta online para acompanhar o trajeto de cada aeronave sobre o espaço aéreo do país e do mundo em tempo real. Confesso que perdi algumas horas me divertindo nesse ‘Radar online’ e fiquei impressionado com a quantidade de aviões no planeta.

Segundo o site brasileiro AeroVix, que possui parceria com o FlightRadar24, a técnica utilizada para receber informações dos voos é chamada de ADS-B. Isto significa que o radar só pode mostrar informações de aeronaves equipadas com transponders(dispositivos de comunicação) que possuem essa tecnologia.

Tráfego aéreo do mundo observado em tempo real.
Ainda de acordo com o site, hoje, cerca de 50% das aeronaves de passageiros, assim como uma pequena quantidade de aviões militares e particulares, possuem um transponder ADS-B ativo. Com os dados enviados por esses dispositivos, o programa consegue captar o posicionamento do avião, altura, velocidade e, em seguida, desenhá-lo no mapa online.

A princípio o programa FlightRadar24 parece confuso. Tentei observar voos partindo de cidades como São José do Rio Preto e Ribeirão Preto, mas não tive sucesso. Consegui visualizar poucos aviões da Azul e nenhum da Passaredo e Webjet  no espaço aéreo brasileiro. A maioria são da Gol, TAM e empresas estrangeiras. Provavelmente (Atenção, eu escrevi provavelmente)  a maioria das aeronaves brasileiras ainda não possuem o transponder ADS-B.

Voos em território brasileiro
Algumas aeronaves também são apresentadas fazendo trajetos improváveis, com desvios  assustadores. Sobre esses erros, o site AeroVix explica que a rota não é transmitida a partir do avião, e sim por meio de dados enviados pelos dispositivos do avião, o que pode gerar pequenos atrasos na atualização.

Quer passar o tempo observando o FlightRadar24É só visitar o site aqui. 

Como a plataforma é em inglês, basta localizar o Brasil no mapa, clicar sobre os aviões e obter as informações daquele voo. Bom divertimento.

Quer saber mais sobre o site AeroVix? É só clicar aqui.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

JORNALISMO ESPORTIVO: BIOGRAFIA DE GARRINCHA


Capa do livro (Foto: Editora Companhia das Letras)
Por: Andre Souza

Em Estrela solitária – Um brasileiro chamado Garrincha, Ruy Castro narra a história e trajetória da vida de um dos melhores e mais conhecidos jogadores de futebol do Brasil. Bastante detalhista, o autor descreve desde a infância e adolescência de Garrincha até a decadência proporcionada pelo alcoolismo, que o levou a morte. Nesse intervalo, momentos marcantes em que o jogador passou pelo Botafogo do Rio de Janeiro e principalmente na Seleção Brasileira, proporcionando orgulho, alegria e admiração a milhões de torcedores do país e do mundo.
Manuel dos Santos nasceu no dia 28 de outubro de 1933, em Pau Grande, distrito de Magé, no Rio de Janeiro, onde passou toda a infância e adolescência ao lado do pai Amaro, da mãe Maria Carolina e outros oito irmãos. O apelido Garrincha veio de um pássaro de mesmo nome, uma ave pequena, ‘boba’, marrom, de pernas finas e dorso listrado. Como era pequeno e não se importava com os estudos, o apelido logo se proliferou entre familiares e amigos.
Antes de tornar-se jogador de futebol, Garrincha trabalhava em uma indústria têxtil instalada por ingleses em Pau Grande . Na época, era famoso por seduzir as meninas e ter uma vida sexual bastante ativa, inclusive com cabras. Aos 19 anos, engravidou a namorada Nair e foi obrigado a casar-se com a jovem.  No mesmo ano, Garrincha foi fazer testes no Botafogo à pedido de um amigo , Araty, onde deu início a surpreendente trajetória de sucesso no futebol, causando admiração a outros jogadores, dirigentes e milhões de torcedores.
Devido ao fato de Garrincha ter se sagrado um dos melhores jogadores de futebol do Brasil e do mundo, Ruy Castro teve a preocupação de descrever alguns momentos curiosos que fizeram parte da vida do jogador, como o dia em que ganhou a primeira bola - aos sete anos de idade, as duas ou três peladas que ele jogava por dia ao lado dos amigos, o sucesso no pequeno time de Pau Grande, a primeira ‘peneira’ para um time de futebol profissional, a entrada no Botafogo – após ter sido dispensado por Vasco e Fluminense devido às suas pernas tortas, o primeiro jogo ao lado de Pelé, até a conquista de três Campeonatos Cariocas e duas Copas do Mundo.
Pelé ao lado de Garrincha (Foto: Globoesporte.com)
 “Estrela solitária” também traz alguns mitos sobre a  história de  Garrincha que o autor preocupou-se em confirmá-los ou desmenti-los. Um desses mitos surgiu durante o primeiro treino no Botafogo, que ao contrário do que alguns disseram, o treinador na época, Gentil Cardoso, não teria dito a frase – “Aqui dá de tudo, até aleijado” – comentando sobre as pernas tortas do jogador. Outra mentira é dizer que Garrincha chamava todos os seus marcadores de “João”. Segundo o autor, essa história foi inventada para realçar a simplicidade do rapaz. Para Castro, também não teria ocorrido, durante a Copa de 1958, a famosa reunião entre jogadores para exigir a escalação de Garrincha pela comissão técnica, e muito menos o fato do jogador ter recusado a trazer um aparelho de rádio da Dinamarca ao Brasil por achar que não conseguiria ouvir e entende a língua dinamarquesa ao chegar em casa.
Por outro lado, o autor confirma a veracidade de Garrincha quase ter sido expulso de campo por driblar demais os adversários no Campeonato Carioca de 1962, além do surgimento do grito de “olé” nos estádios de futebol durante um amistoso entre Botafogo e River Plate, realizado no México, em 1958, onde Mané não parava de driblar o lateral Vairo, do time adversário.
A obra, escrita com uma linguagem simples, rica em detalhes e de fácil entendimento pelo leitor, pode ser intelectualmente dividida em duas partes de grande carga dramática. Na primeira, Garrincha é apresentado como um homem humilde, sedutor, por vezes alienado, heroi do futebol brasileiro, ídolo de todas as torcidas e considerado, por alguns críticos, até melhor que Pelé. Nessa parte do texto, as emoções estão nas entrelinhas e na beleza da escrita de Castro. Por alguns momentos, a sensação é de que o leitor revive as partidas disputadas pelo jogador, como se estivesse dentro do estádio.
Garrincha dribla adversário na Copa de 1958 (Foto: Reprodução)
“O estádio estoura de riso:38 segundos[de jogo]. Garrincha chuta violentamente, cruzado, sem ângulo. A bola explode no poste esquerdo da baliza de Iashin [goleiro da URSS em 1958] e sai pela linha de fundo: 40 segundos. A platéia delirava. Garrincha volta para o meio de campo, sempre desengonçado. Agora é aplaudido.” (p. 164)
Já na segunda parte, após a conquista do segundo título mundial, o drama acompanha os 20 anos de decadência e calvário do jogador proporcionados pelo alcoolismo. Castro narra momentos ‘delicados’, como a descoberta de uma artrose no joelho, que impedia Garrincha de jogar, duas tentativas de suicídio, três acidentes de trânsito, dezenas de internações, até a trágica morte, em 1983. O leitor deixa de admirar o herói acostumado com as vitórias no futebol e passa a sofrer com um homem sem forças físicas e psicológicas para vencer o vício pelo álcool. Nesse processo dramático, há também a vida ao lado da cantora Elza Soares, que em alguns momentos cuidava do jogador como uma mãe cuida de um filho.
“Elza já estava preocupada porque ele [Garrincha] embarcara dois dias antes e não telefonara ao chegar, como combinado. Tudo podia ter acontecido (...) Alguém ligou para ela de um hotel de terceira categoria nas proximidades do aeroporto convocando-a a ir recolher Garrincha (...) Ele fora beber no bar da sala de embarque, ignorara todos os chamados pelo alto-falante e perdera o avião (...) Dois dias e muitos garrafões de vinho depois, um empregado do hotel encontrara-o em quase coma alcoólico no apartamento (...) Elza foi ao hotel busca-lo – e tiveram outra crise.” (p. 411)
O jornalismo esteve presente durante toda a trajetória de Mane Garrincha. A seleção brasileira e a Copa do Mundo eram os principais temas abordados nas coberturas esportivas da época. Um momento marcante envolvendo grandes nomes do jornalismo foi a recepção da seleção brasileira por Assis Chateaubriand, na redação do jornal O Cruzeiro, que havia patrocinado e promovido a grande comemoração do primeiro título mundial do Brasil.
A obra também ganha destaque por relatar detalhes dos bastidores de várias partidas de futebol, em especial os da seleção brasileira durante as copas de 1958 e 1962. O autor descreve o perfil de dirigentes, jogadores, técnicos e preparadores físicos que contribuíram de alguma forma  aos clubes nacionais e a seleção, além de abordar jogos importantes que ajudaram a consagrar outros grandes nomes do futebol brasileiro, como Didi, Pelé, Zagalo e outros.
Em comparação com o cenário do futebol na atualidade, a obra poderia ser livro de cabeceira para jogadores e autoridades que fazem o futebol de hoje.  Por meio do livro, nota-se que décadas atrás o mais importante era a rivalidade, o espírito esportivo, o nome do país estampado no uniforme, a paixão dos craques pela bola, além do futebol de alto nível movido mais pela fé, superstição e emoção, do que pelo dinheiro. Já na atual situação do futebol, por exemplo, os jogadores são vistos e tratados como artistas, garotos-propaganda, movidos por interesses estritamente pessoais e comerciais. O futebol em si, a emoção e o amor à camisa se transformaram em um produto rentável, que tem como matéria prima o fanatismo de milhões de torcedores mundo afora.
Em suma, Estrela solitária- Um brasileiro chamado Garrincha, é um livro para todas as torcidas e admiradores dos grandes nomes que fizeram a história do futebol brasileiro. Em um trabalho de mais de 500 entrevistas durante cerca de dois anos, Ruy Castro escreveu 530 páginas carregadas de informação, humor, emoção e drama, que levam o leitor a vibrar e a chorar ao lado de um homem de pernas tortas que marcou uma geração no mundo esportivo.

VEJA MAIS DETALHES SOBRE O LIVRO AQUI.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

INTRIGAS DE ESTADO: O JORNALISMO RETRATADO PELO CINEMA

Filme produzido em 2009 pelo diretor Kevin Macdonald aborda aspectos atuais do jornalismo, discute as diferenças entre velhas e novas mídias e dramatiza a relação entre dois amigos, que tomam caminhos diferentes e veem a amizade abalada por uma investigação jornalística.

Em “Intrigas de Estado”, do diretor Kevin Macdonald, dois jornalistas que trabalham para o jornal americano The Washington Globe são escalados para investigar a morte de Sônia Baker, amante e membro integrante da equipe do deputado americanoStephen Collins (Ben Affleck). Um dos jornalistas é Cal MacAffrey (Russell Crowe), amigo do deputado, que começa a investigar o crime e coloca em risco, tanto a vida política de Stephen quanto a amizade existente entre os dois. A outra jornalista é Della Frye (Rachel McAdams), uma blogueira jovem e inexperiente que, graças a uma postagem em seu blog, acaba por participar da investigação.

VELHOS x NOVOS

Cameron, Della Frye e Cal MacAffrey  (Foto: Abril.com)

Nas entrelinhas do roteiro existe a relação entre os velhos e os novos parâmetros do jornalismo. De um lado um jornalista experiente, repórter especial do jornal, com perfil detetivesco, acostumado com matérias bem apuradas e defensor de uma investigação aprofundada sobre os fatos. Do outro, uma blogueira novata, ambicionada por conquistar espaço no jornal, que prefere tratar a morte de Sônia como um relacionamento extraconjugal do deputado, ou seja, um sentido de apuração voltado para o sensacionalismo, típico de grande parte dos jornais e blogs da atualidade.

A relação entre esses dois tipos de mídia é evidenciada durante todo o filme. Cal e Della, jornalismo sério e blogs da atualidade, se unem em busca do mesmo objetivo: desvendar os assassinatos e esclarecer a ligação do deputado com o crime. O filme consegue demonstrar de forma clara a diferença de dois perfis profissionais dentro de uma mesma empresa, separados por gerações e formações diferentes. A impressão é a de que o telespectador se diverte com o faro investigativo, experiência e frieza de Cal, contrapostos com a empolgação, a emoção e o ‘politicamente ético e correto’ de Della.

JORNALISMO x INTERESSE DO DONO x ANUNCIANTES

Outra situação real discutida no filme é a crise editorial instalada na grande maioria dos veículos de comunicação. Devido às exigências do mercado os jornais deixaram de ser independentes e imparciais e passaram a depender mais dos anúncios publicitários e interesses particulares e políco-partidários dos seus donos. No filme, esse cenário é representado pela editora-chefe Cameron Lynne (Helen Mirren), que por vezes se vê dividida entre investigar a suposta relação entre o assassinato de Sônia Baker com uma grande conspiração corporativa envolvendo militares, ou seguir as ordens dos seus superiores, preocupados apenas com os lucros do jornal.

Essa evidência pode ser comprovada em pelo menos duas falas da personagem. A primeira delas é quando a editora faz um comentário sobre a blogueira Della Frye: “Ela é esfomeada, barata e produz demais”. Assim vivem os atuais e futuros jornalistas, ou seja, trabalham demasiadamente, ganham pouco e ainda gostam do que fazem. É um perfil ideal para a crise financeira dos jornais e a constante corrida pelo imediatismo da informação. A segunda passagem é mais evidente, quando os jornais concorrentes publicam casos paralelos e sensacionalistas ao crime central do filme, e o The Washington Globe perde o furo por estar preocupado com a investigação aprofundada do caso: “Os novos donos querem venda, e não discrição” – esbraveja Cameron. A editora fica revoltada com a possível falência do jornal, ameaça demitir Cal, mas acaba por ceder aos interesses jornalísticos, e não comerciais.

ÉTICA

Outros aspectos jornalísticos abordados no filme são as relações entre jornalistas e fontes, além da ética para se obter informações. “Intrigas de Estado” mostra perfis tradicionais de fontes, utilizadas no dia-a-dia dos jornalistas, como funcionários de hospitais, policiais, seguranças, anônimos que cobram para liberar informações e até casos amorosos. Por outro lado, o filme cria a polêmica sobre o que é, ou não, ético, para conseguir informação. Entre os mais evidentes estão: embebedar e ameaçar um entrevistado, mentir sobre a própria identidade, promover brigas entre os lados envolvidos em um mesmo caso e até transar com as fontes.

O assunto sobre a ética no jornalismo é bastante difundido nas disciplinas durante a graduação, abordado por diversos autores em livros e discutido em seminários e congressos por todo o mundo. Porém, a ética está diretamente ligada à consciência de cada profissional. O que pode ser errado para alguns pode ser permitido e adotado por outros. Cada caso onde a ética entre em ‘xeque’ deve ser analisado separadamente de um contexto geral, justamente pelo fato de não existir um manual sobre o que é certo ou errado quando a profissão trabalha em defesa dos interesses públicos.

JORNALISMO INVESTIGATIVO x TRABALHO DA POLÍCIA

A base de “Intrigas de Estado” é o jornalismo investigativo. As técnicas utilizadas na apuração dos fatos, como análise de fotos, telefonemas, circuitos de segurança, conversas sigilosas e pesquisas de campo são típicas do trabalho da Polícia – outra relação comum, real e delicada abordada na trama. As investigações jornalísticas ora atrapalham, ora contribuem, para a investigação policial. A sensação é de que existe uma disputa entre as duas partes sobre quem vai esclarecer os assassinatos primeiro.

MINHA RESPONSABILIDADE x MEU AMIGO

Cal 'trai' o amigo Stephen a favor do Jornalismo (Foto: Google)
Por fim, o drama do filme gira em torno da amizade entre Cal e o deputado Stephen, abalada por uma investigação jornalística. Cal fica dividido entre ajudar o amigo ou publicar a verdade sobre os fatos. De início, a reportagem do jornalista estava voltada em provar a inocência do deputado, porém, após analisar provas e ligar os fatos, o jogo se inverte: Cal descobre que o amigo é o mandante do crime da amante e toma a difícil decisão de arruinar uma amizade em favor do compromisso jornalístico de sempre buscar a verdade.

Produzido em 2009, “Intrigas de Estado” é o mais recente longa metragem a escolher o jornalismo como tema central. O último havia sido “Todos os Homens do Presidente”, clássico do cinema de 1976. Com linguagem simples e de fácil assimilação, pode-se dizer, em suma, que o filme restaura assuntos antigos e opina sobre temas polêmicos e reais da esfera jornalística, deixando o público livre para formar a própria opinião sobre o desenrolar dos fatos e as atitudes de cada personagem.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

SINAL AMARELO PARA O JORNALISMO INVESTIGATIVO

Sete ministros do Governo Dilma e vários chefes de estado e ditadores mundo afora. Esse é o balanço de representantes que a imprensa nacional e internacional conseguiu ‘derrubar’ nos últimos meses devido a escândalos de denúncias, corrupção, além de pressões políticas, econômicas e sociais. Entretanto, a queda nem sempre significa o fim do caso, e os jornais precisam ‘acordar’ para esse perigoso estilo de jornalismo investigativo.

Atenção e Cuidado

Não é de hoje que assuntos como “caiu o ministro tal” ou “fulano é suspeito de fazer tal coisa” estampam as capas de jornais e revistas, atravessam as ondas do rádio, ocupam os noticiários da TV ou tornam-se os temas mais comentados nas redes sociais. Acontece que o fazer jornalismo investigativo chegou a um ponto onde tudo parece muito previsível, cansativo e vicioso.

Basta um veículo publicar uma denúncia ou protesto que logo em seguida, nos dias subsequentes, surge uma série de reportagens consideradas denuncistas, de cunho investigativo, para acompanhar o ‘calvário’ dos governantes até a renúncia ou demissão do cargo, consideradas um prêmio para opositores e jornais.

Mas o bom jornalismo investigativo não deve parar por aí. Os erros cometidos por esses ‘derrotados’ não se resolvem simplesmente com a perda do cargo ou mandato. A imprensa esquece de dar sequência às investigações, cobrar as devidas punições ou explicar, por exemplo, quem vai ressarcir os cofres públicos das tantas irregularidades administrativas cometidas. Seria incrível se a máxima “o tal ministro caiu, acabou o problema” fosse real.

Outra realidade. Há certo exagero nos escândalos. O jornalismo deve tomar uma declaração ou denúncia de determinado caso como ponto de partida para uma investigação aprofundada, e não como uma prova concreta de supostas irregularidades. Nesse cenário, jornalistas e jornais tornam-se presas fáceis de interesses e provocações da oposição. E um bom profissional sabe que na maioria das vezes quem abre a boca para reclamar é porque supostamente ficou fora do ‘bolo’ ou teve as vantagens e privilégios cancelados. É difícil acreditar na inocência absoluta. O certo é apurar, se possível encontrar provas e depois publicar.

Como citou Alberto Dines no artigo “Velhacarias Investigativas – Sujeira não limpa sujeira” publicado mês passado no portal Observatório da Imprensa, “o uso de denúncias explosivas e espetaculares – não comprovadas e não comprováveis- para alavancar outras menos apelativas é um recurso chinfrim, maroto. Cria precedentes perigosos, estimula a criação de uma categoria de agentes provocadores e arapongas que vivem nos corredores do poder”.

Nesse contexto, percebe-se que a imparcialidade e a malícia passaram a ser virtudes da sociedade atual, principalmente no universo dos formadores de opinião. Não significa ser fraco ou ‘ficar em cima do muro’. Significa ter conhecimento, maturidade e coragem suficientes para entender o ‘jogo’ e não se deixar contaminar pelos interesses de outrem. Por hoje, basta.

sábado, 12 de novembro de 2011

CARACTERÍSTICAS DO JORNALISMO INVESTIGATIVO

Gênero está relacionado com aventura e profundidade na apuração dos fatos. Repórter torna-se um 'detetive' em busca da verdade.

O Jornalismo Investigativo é caracterizado por um maior aprofundamento dos fatos, em que o jornalista seleciona temas específicos e aprofunda no tratamento do objeto em questão a ser abordado. O profissional utiliza-se técnicas mais rigorosas e características detetivescas em busca de informações que possam levar a solução de um determinado fato. Com isso, o tempo gasto e os recursos financeiros são maiores que a reportagem convencional.

Se o principal fundamento do jornalismo investigativo é descobrir o que está oculto, mas que é de interesse da população, o trabalho em si se volta para a investigação de atos, documentos ou omissões de governadores, legisladores, juízes, militares, comerciantes, fabricantes, banqueiros, ou seja, órgãos públicos, particulares e autoridades que de alguma forma dominam o setor econômico de uma determinada região ou nação.

Há algumas décadas era necessário que o jornalista fosse pessoalmente em busca da notícia, dos detalhes e do desdobramento do fato. Hoje, com a tecnologia, a notícia e todo seu contexto chegam ao repórter sem que ele precise se deslocar atrás do ocorrido. Com o passar dos anos essa nova categoria jornalística se estabeleceu, originando alguns gêneros que formaram três categorias da reportagem investigativa (KOVACH e ROSENSTIEL, 2003):

-Reportagem Investigativa Original: o repórter faz papel de polícia, envolve-se na descoberta dos fatos desconhecidos pelo público;

-Reportagem Investigativa Interpretativa: o tema da reportagem não é necessariamente novo. É uma matéria fornecida ao público de uma forma mais clara e objetiva. Envolve sempre assuntos mais complexos do que a reportagem do dia-a-dia, o jornalista mostra uma nova forma de olhar o fato, seja ele de um dia, uma semana e até décadas atrás.

-Reportagem Sobre Investigação: o repórter acompanha as investigações, e publica seus respectivos desdobramentos a partir das informações transmitidas por fontes oficiais.

No artigo O Jornalismo Investigativo, um novo gênero?, o autor Heriberto Cardoso Milanês diz que o bom Jornalismo Investigativo está relacionado com aventura, antecipação e presença do repórter em grandes eventos que abalam o mundo, a agilidade de penetrar as fontes complexas, obter informações perdidas e divulgar os resultados obtidos em uma série de obras. Segundo Milanês, “O jornalismo Investigativo deve desvendar o motivo e a razão que algo está sendo escondido por alguém”.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O QUE É JORNALISMO INVESTIGATIVO?


O Jornalismo Investigativo pode ser definido como uma ramificação do jornalismo propriamente dito, que tem por finalidade descobrir algo que é escondido por órgãos e departamentos públicos e que seja do interesse público. Alguns autores, como Heriberto Cardoso Milanês e Gabriel García Márquez discordam da definição citada acima e acreditam que não há razão para dizer que a investigação tornou-se um novo gênero do jornalismo.

A pesquisa não é uma especialidade da marca, mas tudo tem que ser jornalismo investigativo, por definição” (MARQUEZ, Gabriel Garcia)

Outra definição é do autor Alfredo Torre, no artigo “ Uma Abordagem Científica e Sistemática do Jornalismo Investigativo”, em 2005, quando diz que o jornalismo investigativo é um sistema transparente de provas documentais ou o testemunho de alguém escondendo algo que afeta negativamente a área pública.

No artigo “O Funileiro”, o autor Carlos A. Sortino define o jornalismo investigativo como um trabalho de jornalista para descobrir algo que é escondido e que seja do interesse público.

A mesma ideia foi definida por Silvio Waisbord, no artigo “Por que a Democracia precisa de Jornalismo Investigativo?”. Para o autor, o jornalismo investigativo é um distintivo em que se publica informações sobre as violações que afetam o interesse público.


“O jornalismo investigativo é a análise de dados estatísticos produzidos normalmente por órgãos públicos, a fim de descobrir as tendências sociais, as características e problemas de comportamento que podem ser notícia, mas que passam despercebidos”.(TORRE, Alfredo).