Capa do livro (Foto: Editora Companhia das Letras) |
Por: Andre Souza
Em Estrela solitária – Um brasileiro chamado Garrincha, Ruy Castro narra a história e trajetória da vida de um dos melhores e mais conhecidos jogadores de futebol do Brasil. Bastante detalhista, o autor descreve desde a infância e adolescência de Garrincha até a decadência proporcionada pelo alcoolismo, que o levou a morte. Nesse intervalo, momentos marcantes em que o jogador passou pelo Botafogo do Rio de Janeiro e principalmente na Seleção Brasileira, proporcionando orgulho, alegria e admiração a milhões de torcedores do país e do mundo.
Em Estrela solitária – Um brasileiro chamado Garrincha, Ruy Castro narra a história e trajetória da vida de um dos melhores e mais conhecidos jogadores de futebol do Brasil. Bastante detalhista, o autor descreve desde a infância e adolescência de Garrincha até a decadência proporcionada pelo alcoolismo, que o levou a morte. Nesse intervalo, momentos marcantes em que o jogador passou pelo Botafogo do Rio de Janeiro e principalmente na Seleção Brasileira, proporcionando orgulho, alegria e admiração a milhões de torcedores do país e do mundo.
Manuel dos Santos nasceu no dia 28 de outubro de 1933, em Pau Grande , distrito de
Magé, no Rio de Janeiro, onde passou toda a infância e adolescência ao lado do
pai Amaro, da mãe Maria Carolina e outros oito irmãos. O apelido Garrincha veio
de um pássaro de mesmo nome, uma ave pequena, ‘boba’, marrom, de pernas finas e
dorso listrado. Como era pequeno e não se importava com os estudos, o apelido
logo se proliferou entre familiares e amigos.
Antes de tornar-se jogador de futebol, Garrincha trabalhava em uma
indústria têxtil instalada por ingleses em Pau Grande . Na época,
era famoso por seduzir as meninas e ter uma vida sexual bastante ativa,
inclusive com cabras. Aos 19 anos, engravidou a namorada Nair e foi obrigado a
casar-se com a jovem. No mesmo ano,
Garrincha foi fazer testes no Botafogo à pedido de um amigo , Araty, onde deu
início a surpreendente trajetória de sucesso no futebol, causando admiração a
outros jogadores, dirigentes e milhões de torcedores.
Devido ao fato de Garrincha ter se sagrado um dos melhores jogadores de
futebol do Brasil e do mundo, Ruy Castro teve a preocupação de descrever alguns
momentos curiosos que fizeram parte da vida do jogador, como o dia em que
ganhou a primeira bola - aos sete anos de idade, as duas ou três peladas que
ele jogava por dia ao lado dos amigos, o sucesso no pequeno time de Pau Grande,
a primeira ‘peneira’ para um time de futebol profissional, a entrada no
Botafogo – após ter sido dispensado por Vasco e Fluminense devido às suas
pernas tortas, o primeiro jogo ao lado de Pelé, até a conquista de três
Campeonatos Cariocas e duas Copas do Mundo.
Pelé ao lado de Garrincha (Foto: Globoesporte.com) |
“Estrela solitária” também traz
alguns mitos sobre a história de Garrincha que o autor preocupou-se em
confirmá-los ou desmenti-los. Um desses mitos surgiu durante o primeiro treino
no Botafogo, que ao contrário do que alguns disseram, o treinador na época,
Gentil Cardoso, não teria dito a frase – “Aqui dá de tudo, até aleijado” –
comentando sobre as pernas tortas do jogador. Outra mentira é dizer que
Garrincha chamava todos os seus marcadores de “João”. Segundo o autor, essa
história foi inventada para realçar a simplicidade do rapaz. Para Castro,
também não teria ocorrido, durante a Copa de 1958, a famosa reunião
entre jogadores para exigir a escalação de Garrincha pela comissão técnica, e
muito menos o fato do jogador ter recusado a trazer um aparelho de rádio da
Dinamarca ao Brasil por achar que não conseguiria ouvir e entende a língua
dinamarquesa ao chegar em casa.
Por outro lado, o autor confirma a veracidade de Garrincha quase ter sido
expulso de campo por driblar demais os adversários no Campeonato Carioca de
1962, além do surgimento do grito de “olé” nos estádios de futebol durante um
amistoso entre Botafogo e River Plate, realizado no México, em 1958, onde Mané
não parava de driblar o lateral Vairo, do time adversário.
A obra, escrita com uma linguagem simples, rica em detalhes e de fácil
entendimento pelo leitor, pode ser intelectualmente dividida em duas partes de
grande carga dramática. Na primeira, Garrincha é apresentado como um homem
humilde, sedutor, por vezes alienado, heroi do futebol brasileiro, ídolo de
todas as torcidas e considerado, por alguns críticos, até melhor que Pelé.
Nessa parte do texto, as emoções estão nas entrelinhas e na beleza da escrita
de Castro. Por alguns momentos, a sensação é de que o leitor revive as partidas
disputadas pelo jogador, como se estivesse dentro do estádio.
Garrincha dribla adversário na Copa de 1958 (Foto: Reprodução) |
Já na segunda parte, após a conquista do segundo título mundial, o drama
acompanha os 20 anos de decadência e calvário do jogador proporcionados pelo alcoolismo.
Castro narra momentos ‘delicados’, como a descoberta de uma artrose no joelho,
que impedia Garrincha de jogar, duas tentativas de suicídio, três acidentes de
trânsito, dezenas de internações, até a trágica morte, em 1983. O leitor deixa
de admirar o herói acostumado com as vitórias no futebol e passa a sofrer com
um homem sem forças físicas e psicológicas para vencer o vício pelo álcool.
Nesse processo dramático, há também a vida ao lado da cantora Elza Soares, que
em alguns momentos cuidava do jogador como uma mãe cuida de um filho.
“Elza já estava preocupada porque ele [Garrincha] embarcara dois dias
antes e não telefonara ao chegar, como combinado. Tudo podia ter acontecido
(...) Alguém ligou para ela de um hotel de terceira categoria nas proximidades
do aeroporto convocando-a a ir recolher Garrincha (...) Ele fora beber no bar
da sala de embarque, ignorara todos os chamados pelo alto-falante e perdera o
avião (...) Dois dias e muitos garrafões de vinho depois, um empregado do hotel
encontrara-o em quase coma alcoólico no apartamento (...) Elza foi ao hotel
busca-lo – e tiveram outra crise.” (p. 411)
O jornalismo esteve presente durante toda a trajetória de Mane Garrincha.
A seleção brasileira e a Copa do Mundo eram os principais temas abordados nas coberturas
esportivas da época. Um momento marcante envolvendo grandes nomes do jornalismo
foi a recepção da seleção brasileira por Assis Chateaubriand, na redação do
jornal O Cruzeiro, que havia
patrocinado e promovido a grande comemoração do primeiro título mundial do
Brasil.
A obra também ganha destaque por relatar detalhes dos bastidores de
várias partidas de futebol, em especial os da seleção brasileira durante as
copas de 1958 e 1962. O autor descreve o perfil de dirigentes, jogadores,
técnicos e preparadores físicos que contribuíram de alguma forma aos clubes nacionais e a seleção, além de
abordar jogos importantes que ajudaram a consagrar outros grandes nomes do
futebol brasileiro, como Didi, Pelé, Zagalo e outros.
Em comparação com o cenário do futebol na atualidade, a obra poderia ser
livro de cabeceira para jogadores e autoridades que fazem o futebol de hoje. Por meio do livro, nota-se que décadas atrás o
mais importante era a rivalidade, o espírito esportivo, o nome do país
estampado no uniforme, a paixão dos craques pela bola, além do futebol de alto
nível movido mais pela fé, superstição e emoção, do que pelo dinheiro. Já na
atual situação do futebol, por exemplo, os jogadores são vistos e tratados como
artistas, garotos-propaganda, movidos por interesses estritamente pessoais e
comerciais. O futebol em si, a emoção e o amor à camisa se transformaram em um
produto rentável, que tem como matéria prima o fanatismo de milhões de
torcedores mundo afora.
Em suma, Estrela solitária- Um brasileiro chamado Garrincha, é um livro
para todas as torcidas e admiradores dos grandes nomes que fizeram a história
do futebol brasileiro. Em um trabalho de mais de 500 entrevistas durante cerca
de dois anos, Ruy Castro escreveu 530 páginas carregadas de informação, humor,
emoção e drama, que levam o leitor a vibrar e a chorar ao lado de um homem de
pernas tortas que marcou uma geração no mundo esportivo.
VEJA MAIS DETALHES SOBRE O LIVRO AQUI.
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